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É muito difícil não perguntar: Por quê? Como entender que pessoas inocentes, boas, idosas, crianças sofram tanto? Seria castigo de Deus? Ou, na verdade, Ele não tá nem aí pra tudo isso?!
De fato, não é fácil entender a tragédia humana. Não há explicações. Sempre esbarramos no imprevisível, no inexplicável, no mistério. E já aprendemos que de nada adianta ficar procurando um porquê. Muitas perguntas continuarão sem respostas. Mas podemos interrogar sobre os motivos, as causas, e que proveito podemos tirar de tudo isso, uma vez que nada é inútil, nada é em vão.
O povo da bíblia também tinha seus questionamentos. Diante da humilhação, das tragédias, das derrotas, da destruição dos templos, ao ver a Arca de Deus ser levada pelos inimigos vinha sempre esta interrogação: por que Deus permite isso? Até mesmo a deficiência física era considerada como pecado. Os discípulos perguntam a Jesus: “Quem pecou, ele ou os seus pais, para que nascesse cego?” (Jo 9,2). Numa dessas oportunidades em que Jesus é questionado sobre o assunto, ele afirma que os galileus que foram assassinados por Herodes quando ofereciam sacrifícios a Deus, bem como os que morreram com a queda da torre de Siloé não eram mais pecadores. E continua: “Contudo, se vocês não se converterem, morrerão também” (cf. Lc 13,1-5).
Jesus procura acabar com a imagem de um Deus vingativo, que vigia e castiga. Tirar a ideia de que sofrimento é castigo. Mas aproveita a oportunidade para fazer aquele grupo refletir: o que causa a verdadeira morte é o pecado. O que destrói de fato o ser humano é o mal.
Jesus quer nos ensinar que acontecimentos trágicos e sofrimentos inesperados são sempre uma oportunidade para amadurecermos. Mesmo não sendo vontade de Deus, ele permite que aconteça para ajudar seu povo a valorizar mais a vida, a ser mais solidário com os que sofrem, a entender que essa vida é transitória. Ensina a necessidade de repensar nossas atitudes e nossas escolhas. Há fenômenos que são naturais. Há outros que são consequência da ganância, da irresponsabilidade, do egoísmo, de descuido do poder público e da população.
De fato, muitas enchentes são naturais; mas outras tantas são causadas pelo desequilíbrio gerado por desmatamentos e represamento de água, por falta de infraestrutura, pelo excesso de lixo jogado nas ruas, pela falta de planejamento urbano. Há deslizamentos que são resultado da especulação imobiliária e da falta de políticas públicas de moradia. O apoio aos atingidos e a reconstrução sempre esbarram na escassez de recursos ou no desvio de verbas. É difícil acreditar, mas tem muita gente que se aproveita das tragédias, da fragilidade, da dor para lucrar. Vemos isso a todo instante. O sofrimento vem da natureza, mas o estrago maior é causado pelo próprio ser humano.
O certo é que a vida nos oferece muitas lições. É preciso estar atentos. Ver o que não depende de nós e o que está em nossas mãos. Tanta dor não pode ser em vão. Tanto sofrimento deve nos ajudar de alguma forma. Tudo isso pode despertar em nós um maior cuidado com a natureza, o esforço para evitar o consumismo e o desperdício, a luta para diminuir as desigualdades sociais, maior engajamento político e organização popular para exigir políticas públicas adequadas e necessárias. Aprendemos o poder da união, da organização, da solidariedade. E aprendemos sobretudo ao ver no rosto daquele povo machucado a expressão da fé, da coragem, da teimosia. Ao sentir em seus olhos embaçados pelas lágrimas o brilho da esperança e o desejo de reconstruir. Como não se deixar tocar por tudo isso? Como não aprender com tantas lições da vida?!
PE. JOSE ANTONIO DE OLIVEIRA
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